há uma sensação, que já foi mais recorrente, mas que ainda reconheço. não sei explicá-la ou descrevê-la, mas é física, não é só na parte emocional ou racional, é o corpo. é um nervoso nos dedos, mas o mais forte é a bola no peito, esta angústia na garganta de quem não quer dizer nada. é só abrir a página e começar a dar com os dedos nas teclas.
e estranhamente, anos e anos depois, foi este o endereço que escrevi para dar liberdade aos dedos já pouco habituados ao teclado e a acompanhar a velocidade do raciocínio. os erros são mais. a prática perde-se e o que eu gostava de escrever, acho que a loucura começou quando deixei de escrever. acho que eu deixei de ser eu quando deixei de escrever
e não que o "escrever" seja dito com orgulho ou falsa modéstia, não é nada de jeito, nunca foi. umas vezes divertido, outras vezes sentido, mas acho que era lá que a minha sanidade e eu vivíamos. nem sempre pacificamente, é certo, mas é talvez esta a forma de me manter eu, por instantes pelo menos. de organizar as coisas que vão andando por aqui, nestes caminhos do pensamento que sempre se cruzam, nunca se juntam, ou juntando acabam num desfiladeiro onde tudo vai para morrer.
e como retomar o gosto, sem que seja uma dor? sem que o estômago se embrulhe? foi quando comecei a recusar a lidar com as dores e as angústias. foi quando pensar nas coisas me começou a doer por demais e preferia esquecer, vendo televisão. um filme. uma série. um qualquer anestesiante.
não escrevo para ninguém agora. abri mais de cinco blogues entretanto. nenhum resultou. nenhum cresceu. nenhum me aliviou. nenhum vingou
eu não vinguei. eu desapareci com os posts
e houve alturas em que isto do blogue, da escrita era ponto fundamental na minha vida. e antes mesmo do blogue, a escrita ocupava tempo e lugar especial na minha vida.
andei demasiado tempo à procura de anestesiantes. de não sentir. de me livrar das sensações, das certezas que não me agradavam e iam contra o que me apetecia. anestesiei-me tanto que fiquei permanentemente dormente e fico feliz de voltar a chorar. de voltar a sentir. de ter a coragem para enfrentar a dor. as ansiedades. não é sempre. nem sempre quero. a maior parte das vezes pelo-me por desligar o cérebro em frente a uma televisão. mas às vezes, encho o peito de ar, quando ele não bloqueia com a ansiedade, e aqui vai disto: esfuracar os males, pensá-los, repensá-los, e agora, finalmente escreve-los.
mas tantas vezes pensei que era desta que retomava a escrita e não era. e era só um dia por acaso. Porque isto também se treina, não é. e eu não sou de disciplinas. é custoso. é doloroso. muito. e às vezes, lembro-me que acontecia, escrever com as lágrimas a escorrer, mas era uma forma de me manter e à sanidade vivas.
nunca fui de criações, de ficções, de histórias, de metáforas sim, mas não muito bem elaboradas, simples, directas, básicas até. só de sensações, de angústias.
e isso, as angústias, mantém-se.
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