No último episódio:
D. Manuel ficou fechado na casa de banho desde as 18h de domingo até às 16h de segunda feira.
Segunda-feira:
Regressei ao lar às quatro da tarde e devo confessar que levava a consciência pesada. Pensava que o gato, coitadinho, tinha estado quase um dia inteiro sem comer e fechado...
Obviamente que não fui sozinha e assim que abri a porta de casa o que se ouviu foi um miar de um gato triste. O que se imaginava do lado de lá da porta da casa de banho era isto:
Eu não falei, mas o R. que ia comigo começou com o do costume: "Manel... Gatinho... como estás?! Então?!" e ele respondia com o som do mais triste dos gatos...
Eu, na perspectiva do "mais vale prevenir que remediar" meti-me dentro do quarto com a mão na maçaneta da porta, pronta a fechá-la, caso a coisa desse para o torto. Não sei se já referi que tremia por todo o lado e entre a pena e a culpa de o ter deixado fechado quase um dia inteiro, estava o chamado "receio" de o pesadelo se repetir.
Aberta a porta da casa de banho eu vi! Ele estava todo eriçado na mesma, os olhos psicóticos e andava extremamente devagar, muito, muito devagar e a observar tudo demasiadamente atento.
Vai daí eu grito: "Ele está na mesma!" E bumba fechei a porta do quarto e deixei o R. cá fora. Simpática?! Não! Traumatizada.
Comecei a ouvir as "falinhas mansas" - Manel, como estás gato?! O que tens?" Ao que a besta responde com uns gemidos e uns gritos, e umas "bufadas" e o R. fechou-se na casa de banho.
E a esta altura toda a gente pensa: como é que é possível um gato de 9 meses aterrorizar pessoas adultas e ninguém lhe dar uma biqueirada?!
Primeiro só me dou com pessoas civilizadas que não têm por primeiro impulso bater em qualquer coisa que não entendem, depois os gritos e o aspecto da besta impressionavam. As pessoas ficavam sem reacção. O Manel tinha um ar assassino...
Solução?! TElefonar à M. para ligar ao veterinário para ele vir de urgência porque a coisa continuava na mesma. O veterinário não estava, a M. veio em nosso socorro.
A este ponto, R. já tinha tentado sair do quarto, mas deparou-se com a fera a meio das escadas: apoiado nas patas traseiras, com o corpo levantado (a chamada posição de urso!) e bufando como se não houvesse amanhã - claro está, desistiu...
A M. apareceu. Trancou o Manel na casa de banho e nós conseguimos sair. A M. é extremamente corajosa.
Eis que chegámos a um ponto crítico: ou deixo o gato em casa e passou o contrato para o nome dele ou tenho de o pôr fora de casa. A hipótese de pegar nele e levá-lo ao veterinário era impossível de cumprir.
Eu e a MT (que entretanto apareceu lá em casa) ficámos na rua, dentro do carro, enquanto M. e R. tentavam pelo menos pô-lo fora de casa.
Não sou capaz de descrever o que aconteceu, porque eu fugi (corajosa!). Mas ouvi. E o que ouvi dava para um filme de terror. Os guinchos, os gritos e os gemidos do gato eram completamente surreais.
Chegou ao ponto que o gato, Manel, ou que restava do meu gato, estava de tal modo assanhado, assustado e aterrado - com duas pessoas a persegui-lo pela casa e a tentar apanhá-lo, que resolveu que a única saída que tinha era a rua.
Finalmente! Liberta da fera! Foi às gatas.
Quando me comecei a acalmar, naturalmente, veio a sensação de culpa: o desgraçado nunca tinha estado na rua, não conhece nada, não se sabe safar e eu deixei-o ir. Mas na verdade não tinha como evitá-lo. Era ele ou eu.
Próximo capítulo:
Como eu ouvi o gato miar desesperado na noite de segunda feira e como não tive notícias durante dois dias.
Esse gato é marado. Compra um cão.
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