E o menino jasus, continua nas palhas deitado nas palhas estendido?!

Fico deprimida no Natal. Não compro prendas para quase ninguém (a minha situação de trabalhadora a recibos verdes iliba-me de uma série de responsabilidades, eh eh eh).

Mas não é por isso que fico deprimida.

É idiota andarmos armados em bonzinhos durante quinze dias por ano. É idiota enfeitarmos a casa e as janelas. Gastarmos fortunas em electricidade e enfeites. É idiota as cidades enfeitarem-se. Gastarem fortunas em electricidade e enfeites. É hipócrita descarregarmos a consciência comprando uns postais da Unicef que não vamos mandar a ninguém. É idiota arrancarmos não sei quantos pinheiros da terra para durarem 1 mês num vaso.
É estúpido atropelarmo-nos, sermos mal-educados, arrancarmos coisas das mãos das outras pessoas na loja que está em saldos.
Vendem-nos o Natal como a época do amor. O amor medido em tamanho e quantidade de prendas que oferecemos. Mesmo que a pessoa não goste do que lhe damos, é importante que seja vistoso e que a pessoa perceba que gastámos algum dinheiro no bibelot pavoroso que dá com o napron pavoroso do Natal passado.

E o Natal que vinha nos livros que quando eu era pequenina (há muitos, muitos anos)? Sempre fui privilegiada. Sempre tive prendas. Sempre quis prendas. A parte mais importante do Natal sempre foi a meia noite e a confusão de papéis e estaria a mentir se dissesse que o importante era a reunião da família, até proque sempre vivemos uns ao pé dos outros e estavamos juntos quase todos os fins de semana. Mas agora estou mais crescida. Já olho um bocadinho mais à minha volta (ou pelo menos faço por isso).
E hoje, dia 23 de Dezembro, véspera da véspera de Natal, dia em que me meti num centro comercial e vi centenas de pessoas às compras (incluindo eu, que pouco comprei, mas andei por lá a fazer número) vi o telejornal da RTP e entre as falências das fábricas, os ordenados em atraso, as poupanças das pessoas que foram ao ar em manigâncias de prestigiados gestores financeiros, diz-se que o número de cães e gatos abandonados está em forte crescimento. A seguir imagens do canil de Cantanhede e que olhos tão tristes e assustados. E que corpos tão encolhidos, rabos tão escondidos entre as pernas. Vão começar a abater os mais velhos, que têm menos hipóteses de vir a ser adoptados, para que haja lugar para os mais novos.
E hoje, véspera da véspera de Natal, fui ao Refogado e Hortelã (uma das minhas leituras favoritas dos últimos tempos) e leio isto. E ao saber que coisas destas acontecem, pergunto eu: Onde é que está o Natal e o Menino Jesus? O Pai Natal está em todo o lado, mas e o Menino Jesus, anda onde?!