"É que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi (...)"
O tempo foge e parece muito, mas quando pego nos dedos para a contabilidade vejo que, atribuindo um ano de permanência em Beja a cada um, ainda sobram. Nove. Mas a teia da aranha estende-se e eu vou-me tornando parte da paisagem.
Do que aqui me trouxe: o trabalho. Que na verdade não o é. É apenas a vida.
A teatralidade é inerente ao homem, como a religiosidade, o ritual. A origem de umas e de outros é indissociável. No dia em que os manos Lumière apresentaram o futuro ao mundo, anunciou-se a morte do teatro.
Modas passaram, tendências, estéticas. Vidas dedicadas inteiramente a ele (porque não é e não pode, nunca, ser um trabalho). Nomes e rostos que se esqueceram, que nunca se conheceram. Grandes êxitos ou as, mais facilmente lembradas, grandes estrelas.
Mesmo com a generalizada e crescente falta de apoio estatal e a inexistência de investimento privado, o teatro vai sobrevivendo. Há sempre um teimoso que vai foçando... E há sempre outro teimoso que gosta de ir, que se senta uma hora ou duas sem pipocas, correndo o risco de ser atingido com um perdigoto… ou mesmo com o odor do suor dos actores (acreditem ou não, transpira-se!).
O teatro não morreu. A crise no teatro é já uma doença crónica. Se temos vindo a morrer nos últimos 113 anos, não será demais? Não será altura de acabar com isto?! Eu proponho a eutanásia! Mate-se de vez o teatro e mate-se também A Menina Júlia, o Shakespeare, o Godot, o Pinter…
Eu proponho o corte definitivo dos subsídios. Cambada de lambões! Eu proponho que se derrubem os teatros e espaços a ele dedicados, queimem-se peças e documentos, estéticas e manuais.
Venham os enlatados baratos e engordem para aí, esparramados nos sofás confortáveis que nós, os do teatro, pairaremos algures a ver o espectáculo.
Diário do Alentejo
Para uns um grande soco no estomago, para outros palavras de coragem...
ResponderEliminarEstá muito boa a crónica! E é a prova provada que o Diário do Alentejo ainda tem coisas boas. Se fosse neutra, seria a referência que a cidade precisa!
ResponderEliminarPassa despercebido, ninguém liga, ok!... mas este é o caminho certo, o caminho da denúncia da sociedade do facilitismo, dos «enlatados baratos» sejam para ver, para comer, para (não) pensar.
ResponderEliminarA denunciante é suspeita, já se vê, mas alguém tem de o fazer, e quando o feito cumpre um objectivo e é esteticamente belo... magnífico.
Parabéns.
ah ganda moi!
ResponderEliminarMagnífico é a palavra, também sou suspeita, mas estou a ser o mais sincera possível...vais longe moi!!!
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