2008/04/06

Vamos à Terra

Um post que um amigo pôs no seu blog, (ãh?! já me deves uma série de visitas...), fez-me pensar num assunto que por vezes me atormenta. Bom, atormentar não será a palavra ideal, mas deixa-me nostálgica, pensativa, melancólica... metida p'a dentro.

Nada e criada na maravilhosa Linha de Sintra, quando chegava o verão e vinham as férias grandes começava o tormento dos dias desencontrados.
As amigas. Umas iam na primeira quinzena, outras na segunda, outras no mês seguinte. Era difícil conseguir reunir o bando para passar o dia todo a jogar à sirumba e ao 35 e a outros jogos que implicavam irmos roubar cal seca às obras para fazermos lindas linhas na estrada pouco frequentada e com a largura ideal de dois carros. Tínhamos um lugar preferido nessa estrada que era mesmo ao lado do prédio do Bruno Bernardino (meu vizinho e pretendente, relação essa desejada e abençoada por toda a vizinhança, mas eu nunca fui na cantiga, ver melhor a história aqui ), porque tinha sempre sombra: de um lado, como referi, o prédio do Bruno Bernardino, do outro o da Milene, que era mais velha e muito caseira, brincava pouco connosco. O que de facto me tirava o sono (nem tanto...) era que quando eu ia de férias o gang ficava lá todo, menos eu. E eu tinha a certeza absoluta que seria nesses dias que a paródia ia ser a sério.
Báh... divaguei. Queria falar da nossa terra. Das Férias Grandes (nunca mais volto a ter férias grandes na vida, nunca tinha pensado nisto, se voltar a ter umas férias grandes, o nome correcto para isso será Desemprego), quando a minha frustração ou tristeza, viu pela primeira vez a luz do dia.

A Andreiasabel e a Vâniarrita eram as minhas mais fiéis companheiras e chegando o verão lá íam elas.
"Vais de férias pa onde?" perguntava eu "Pá Terra" ouvia eu.
Esta coisa de ir para terra sempre me intrigou. Primeiro porque não sabia onde era, e depois porque percebi que a Terra a que se referiam uma e outra não era a mesma. Então havia dois lugares chamados Terra. Ora bolas, e eu ia para o Algarve!

Filha de mãe alentejana e pai transmontano desligados das raízes (pois que alentejano que se prezasse vivia no Cacém), nunca fui à Terra. Ia muito de vez em quando a Estremoz, à Aldeia da Glória. Mas não ía à Terra. Ía ao Alentejo.
Bom, depois fui estudar para o Alentejo, e dizer que ía à Terra ao fim de semana, quando a terra a que me referia era o Cacém também não fazia muito sentido, e ainda corria o risco de suscitar algumas gargalhadas jocosas (!).
Foi então que a família se mudou.
E eu também: Covilhã, Coimbra, Évora outra vez, segunda dose de Covilhã, e por fim a cereja no topo do bolo: Carregado!! Ah maravilhosa terra, bate o Cacém aos pontos. Sines, Carregado novamente, Évora (3º round) e agora: Beja.
Beja recebeu-me muito bem. Gosto de viver aqui e ao fim de um ano (txxiiii, já?) começo a sentir-me em casa. E esta coisa de me sentir em casa, sobrepõe-se a tudo.

Claro que quando vou ao palácio paterno tenho todos os sintomas de quem chega a casa: muito sono e moleza, como se o descanso só fosse possível ali; uma fome bruta só aplacada pelas incursões nocturnas à despensa com o fim de exterminar os malditos pacotes de bolachas Coríntios (?, daquelas com passas). Adormeço logo a seguir ao jantar, e ao almoço também, se não tiver atenção.
Mas aquela não é a minha casa. O cheiro não é nosso. O nosso cheiro ficou no 3º andar da Praceta da Palmeira lote F1 (acho que mudou para nº5, de facto um lote com número e letra é muito complicado para decorar). Ficou no parque em frente que tinha baloiços (sempre escaqueirados), com plantas que me faziam borbulhas mal vinha a primavera e também tinha uma nespereira que dava uma nêsperas (redundante) muito pequeninas cheias de caroços enormes, a fruta propriamente dita era uma película quase transparente, mas que comíamos gulosos (eram doces). As nêsperas também serviam como arma de arremesso. Ficou na praceta atrás do prédio onde se saltavam as fogueiras nos Santos Populares, onde montávamos praças a fingir e fazíamos barracas para vender rifas que ninguém queria comprar, porque os prémios eram os bibelôs (?) que as mães não queriam e os nossos trabalhos manuais (ainda tenho uma pedra onde a andreiasabel pintou o Pateta com canetas de filtro).

Bom, a verdade é que nunca fui à Terra. E na verdade a terra da andreiasabel (Crato) e da vâniarita (Santiago do Cacém) também não era delas. Se bem que, provavelmente, a sentissem como sua. Eu não tenho terra que sinta minha. Não tenho terra a que regressar um dia quando me cansar de andar por fora. Dá-me a liberdade de partir com a mesma leviandade com que cheguei. O meu porto seguro sei que está onde estiverem os meus pais, seja isso onde fôr; já a minha casa, o meu lar, a minha terra vou ter de encontrá-la. E hoje, sinto que a encontrei. Sinto que a cidade onde estou agora me adoptou. E que eu a adoptei.
Beja é uma cidade tímida. Não escancara os braços para receber estranhos. Se bem que também não os cruza. Antes os deixa caidos ao longo do corpo, disponíveis. Sorri quando lhe entramos pelas artérias a primeira vez, um sorriso simpático, caloroso. Contido. E à medida que o tempo passa, que lhe vamos conhecendo as manhas e as manias os seus braços vão ganhando lugar à volta do nosso corpo. Os olhos já sorriem. A relação começa a estabelecer-se, mas devagar, sem pressa, como todas as relações que se querem duradouras: dia a dia com cordialidade sincera, simpatia, risos, disponibilidade. É a fase do namoro.

Eu tento seduzi-la, ela já me conquistou. E eu acho que vou no bom caminho.

adenda: aqui fica a legenda das fotos, porque esta porcaria recusa-se a manter a formatação que eu ponho e põe tudo fora do sítio: 1. cacém; 2. Évora; 3. Pelourinho da Covilhã; 4. Sines; 5. Castelo de Beja.

4 comentários:

  1. EXCEPCIONAL a forma como descreve Beja!

    ResponderEliminar
  2. Anónimo6/4/08 16:50

    Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Celular, I hope you enjoy. The address is http://telefone-celular-brasil.blogspot.com. A hug.

    ResponderEliminar
  3. gostei, sim senhora...se bem que uma parte dos louros deveria ser para mim, pois, foi o meu post que te fez pensar, ehehehe...
    bjs

    ResponderEliminar
  4. atão tem três links na primeira linha do texto!!!! caramba! ninguém vai ler o resto do texto!!
    O que tu querias era um comentário como o que eu tenho aqui! eh! eh!
    mas sim, admito, foi v. excelência que me inspirou. Os meus mais sinceros agradecimentos mazdak!!

    ResponderEliminar