A vida é dura. E de tal maneira que nos enrijecemos à força. E somos tão competentes a fazê-lo que, em situações nas quais a sensibilidade e a empatia davam muito jeito, somos incapazes de as sentir, de as usar. Quando, por algum motivo, estamos fragilizados - imaginemos com um pé torcido e de muletas - sente-se a frieza da gente feita pedra. Como se temessem que ao ser gentis abrissem o flanco ao mundo.
No entanto, se um dia eu estiver na fila para o autocarro, de muletas, com bagagem que não consigo carregar e um senhor me perguntar: "posso ajudar?" E se esta gentileza contagiar o condutor ao ponto de largar o que está a fazer para me ajudar e se as pessoas que esperarem mais um bocadinho não reclamarem... vou ter a certeza de que ainda existe a possibilidade de resgatar de debaixo da camada grossa de sedimento fossilizado que nos escuda da vida, aquilo que faz de nós gente de bem.
Hoje foi o dia!
Sem comentários:
Enviar um comentário