2012/07/03

regresso devagarinho...

Primeiro fui ficando sem tempo, depois tinha um bocadinho, mas não tinha net. depois tinha net, mas o pc era tão lento que me irritava e quando abria o blogger já me tinha esquecido o que queria dizer. Depois às vezes tinha pc, tinha net, tinha tempo e não tinha nada para dizer. Depois... de repente dei por mim a sentir falta disto. Parece-me que regresso.

Entretanto já conto mais um ano. Já tive muitas prendas (que incluiram um pc novo de onde orgulhosamente escrevo....). Já me cansei da vida de taberneira, já tive saudades. Agora regresso. Já descansei. fui ao Algarve e vim duas vezes. Já quase que estou cansada outra vez. Já fiz uma directa e arrependi-me. Vi os jogos da selecção, irritei-me e emocionei-me e fiquei triste e depois passou-me logo, que com tanta coisa que há para me provocar tristeza, o futebol não pode ser uma delas.

Depois fiquei mais magra e engordei novamente. Perdi o apetite e ele regressou. Vi bons espectáculos de teatro, música. Descobri novas séries. divirto-me com elas e desligo do resto do mundo. Os meus blogues favoritos foram deixando de funcionar. A lista aí do lado deve estar completamente desactualizada.

Gosto do facebook, mas não tanto como do blogue. Se bem que tem os jogos.
Já escrevi textos para o jornal e não publiquei aqui (acho que foi só um). Gosto da forma como isto me diverte. E volto na esperança que o volte a sentir.

Entretanto um texto que não é meu.  Mas que me fez chorar logo pela manhã. E se há causa que deve mexer connosco e nos deve fazer mexer é esta. E escrita assim... quem é que não a sente como sua?!

" "Tens um mano na tua barriga?" - entrou de rompante pelo meu quarto. A mãe, internada no quarto ao lado, tentou demove-la. " Não incomodes a senhora! Anda cá!". Mas ela continuava a olhar para mim, de pé, à beira da minha cama de hospital. Olhos azuis, cabelo louro, 4 anos de gente.
"Também tens um mano na barriga?"- insistia. Pego-a ao colo para se sentar aos pés da cama, leve que nem uma pluma. "Cuidado com o meu cateter!". A mãe, pálida e com ar gasto, grávida do mesmo tempo gestacional que eu, a contar-me da leucemia da filha, dos tratamentos de quimioterapia, da gravidez que pode ser uma esperança de vida, de mais vida ainda, o verdadeiro milagre da vida, para a filha que já vive. Das possibilidades de compatibilidade do novo bebé, que entretanto ganha pouco peso no útero, fruto do sistema nervoso da mãe que, internada, não acompanha pela primeira vez, em dois anos e meio, o ciclo de quimioterapia da filha.
"Tens um Bobi?"- fita-me, a pequena, de olhos pregados no suporte com rodas que me eleva o soro. E a mãe sorri, gasta e cansada, velha no pico dos seus 26 anos, a aguardar um milagre que são dois, agora. O bebé só tem um rim mas não lhe importa. A doença da filha ensinou-a a racionalizar a realidade. "Vive-se só com um rim, eu quero é que ele nasça bem, mesmo que não seja compatível,. Quero- os aos dois, bem! Percebe-me, não é?" Percebo tão bem.
E a menina canta- me aos pés. Elevo-a no elevador da cama, fica alta no cimo do colchão elevado. "Vou tocar no sol!"- e não parece doente, enquanto escorrega pelas minhas pernas, se ri às gargalhadas e folheia um livro que me ofereceu uma leitora deste blog.
A mãe a insistir que me deixe sossegada, sorriso exausto. Está desempregada, " ninguém dá trabalho a uma mulher que tem que faltar uma semana por mês para acompanhar a filha na quimioterapia". E, agora, internada. O marido teve que meter baixa para a substituir- "o dinheiro da baixa não vem logo no mês em que gozamos a baixa, este mês nao sei como irá ser". A filha, tagarela, dá gargalhadas e, por um momento, o sorriso abre-se, alheio aos problemas. Acaricia a barriga, como que a regar o crescimento do bebé que aí vem.
Falamos dos bebés que esperamos. Chega mámen para a visita, senta a menina ao colo, faz-lhe desenhos a pedido. A mãe elogia o jeito dele para desenhar. Mostro- lhe a fotografia da parede do quarto da Ana, pintada por ele. A menina pergunta se ele lhe pode desenhar uma Kitty na parede. Sorrimos os dois, cúmplices. Hoje toleramos a Kitty. Sim, irá pintá-lá, logo que a mãe regresse a casa. A menina salta de alegria.
Chega o jantar, a mãe e a menina recolhem ao seu quarto, não sem antes a pequena insistir: "Tens um mano na barriga?".
Lembro- me das discussões que temos tido acerca da preservação de células estaminais. Banco Público ou empresa privada? Se colocarmos no Banco Publico e aparecer alguém que precise, a nossa filha fica sem as suas células disponíveis. No Privado as células serão sempre guardadas para ela.
E a menina ali ao lado, a precisar de um transplante de medula. Não pode haver egoísmo na humanidade. Nem umbiguismo. Se a nossa filha fosse compatível, não hesitaríamos um segundo, sabemo-lo com o olhar, as palavras não são precisas.
E, finalmente, respondo "Sim, tenho uma (m)Ana na barriga!". Porque todos os bebés deveriam ser irmãos da menina.
A minha sê-lo-á."

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