É inegável que as Palavras
Andarilhas e o Festival Internacional de Banda Desenhada são os maiores acontecimentos
culturais de Beja. O nome da cidade aparece na imprensa nacional e estrangeira,
trazem turistas, devolvem alguma pulsação à cidade, a criatividade e a arte
circulam pelas ruas, praças e esquinas, espalhando as sementes que as gerações
seguintes colherão (que palavra esquisita).
Estas duas iniciativas são da
responsabilidade da Câmara Municipal de Beja, através da Biblioteca Municipal e
da Casa da Cultura, respectivamente. São por isso programados, produzidos,
pensados e levados a cabo por funcionários públicos. Ora, nestes casos, o
funcionalismo público nada tem que ver com as ideias de laxismo, incompetência
ou incúria com que tem sido, desde há anos, rotulado. Pelo contrário. Se quisermos
definir o comportamento destes funcionários públicos será com palavras como:
dedicação, esforço, empenho. Há que louvar e agradecer o esforço destes
funcionários públicos da cultura, que honram o título que carregam e são realmente
funcionários do público. A verdade é que, é também graças a eles que o pouco de
cultura existente nesta planície escaldante ainda não desapareceu. E tudo isto
se resume a uma expressão: “amor à camisola” – expressão esta que tem muito que
se lhe diga, porque a partir daqui tudo é válido; é por amor à causa. E se no
amor e na guerra tudo vale, então pisamos um terreno muito pantanoso.
É que por amor, uma pessoa é
capaz de tudo.
Nada tenho contra o amor à
camisola, pelo contrário, acho que sem ele - o amor - pouco ou nada se faz. O
amor é bonito, romântico, mas também ingénuo e o problema é o aproveitamento
que dele se pode fazer quando é óbvio que o nosso amor nos impedirá de deixar
morrer as coisas, os projectos, as ideias... porque as amamos.
Hesito na leitura possível do que
aconteceu a semana passada no Pax Julia. Por iniciativa da Biblioteca, foi
organizado o espectáculo de angariação de fundos “Um Abraço às Andarilhas”. Porque
mesmo depois de se tornar um acontecimento bienal, o orçamento continuou a mingar
muito para além do razoável e era necessário compensar as machadadas.
Leituras possíveis:
1. A
CMB pede aos munícipes que financiem duas vezes um dos dois grandes
acontecimentos culturais da cidade: quando pagam os impostos e quando o evento
está já aí e é preciso liquidez...
2. Os
funcionários da Biblioteca Municipal deram um par de chapadas de luva branca na
cara de quem lhes tenta reduzir o projecto: não só conseguem artistas para uma
noite inteira de espectáculo, como enchem o teatro com algumas das pessoas que
não querem deixar morrer as Andarilhas.
Se no primeiro caso me parece uma
perversão brutal da lógica das coisas, o que não me surpreende, mas não deixa
de chocar, no segundo caso preocupa-me que as caras em que as chapadas deviam assentar
com força se recusem a recebê-las por fugirem ao contacto. São chapadas
perdidas no espaço sideral, metafisicas. Por outro lado, a pergunta que faço é:
se agora, com tão pouco, as Andarilhas vão acontecer (devido ao “amor à
camisola”), o que haverá daqui a dois anos? Podemos estar perante um caso
semelhante ao do burro do cigano, que quando finalmente se começava a habituar
a não comer, morreu.
Ao mesmo tempo que associações
culturais e desportivas não recebem um tostão de apoio em 2012, o executivo da
Câmara Municipal de Beja declara a Tauromaquia Património Cultural Imaterial de
Interesse Municipal. Se não fosse trágico, dava vontade de rir.
Assino, literalmente, por baixo e levei para o meu facebook. Bjs
ResponderEliminarJá agradeci lá, agradeço aqui tb... ;-)
ResponderEliminar