Não gosto de quando não tenho
nada para fazer, por isso sou muito boa a inventar formas de entreter o tempo,
sem perdê-lo. O problema instala-se quando nunca não há o que fazer – eu sei
que é uma forma confusa de expôr o problema, até algo incorrecto do ponto de
vista ortográfico/gramatical... mas é exactamente esta a ideia.
Se o mundo se recusa a parar para
eu apanhar um bocado de ar e há sempre coisas para fazer, deixá-las de lado
para ir ver um filme ou arrumar livros e fotocópias que aguardam desde a última
mudança que os alivie dos sacos e caixotes onde estão, resulta num peso de consciência
com o qual lido mal.
Assim, o tempo é passado de
tarefa em tarefa. E apesar de haver algumas que retribuirão o empenho que lhes
dedico na forma de prazer ou satisfação, outras são pura e simplesmente secas
épicas, que me forçam a exercícios para os quais não tenho o mínimo de jeito,
aptidão ou apetência. Mas ninguém disse que ia ser divertido.
Ora e porque é que me debruço
sobre tema tão insonso e pouco apelativo? Porque começo a sentir o peso da
idade e palpita-me que daqui para a frente é a decadência absoluta do corpo de
sereia/princesa onde a minha alma habita e que durante anos foi a alegria do espelho
assim como daqueles que, tendo o privilégio de o ver passar nalguma rua desta
cidade, lavavam as vistas...
E a decadência que vejo
instalar-se dia após dia está, obviamente relacionada com este gastar
permanente de neurónios e energias em tarefas que me consomem o ânimo.
Falo de dores indiscriminadas e
generalizadas nas articulações, músculos, tendões e mais: nódoas negras
provocadas por encostos (e não pancadas), arranhões (estes perpetrados pelo
gato sanguinário), pêlos encravados que se transformam em marcas e cicatrizes.
Mas não pára aqui: ele é unhas partidas, cabelo seco a querer espigar,
borbulhas cuja origem não se conhece, sobrancelhas que são cada vez mais
dificieis de harmonizar com o belo rosto (em decadência é certo) que deus me
deu, os pés de galinha instalam-se sem pedir licença a ninguém e a tez torna-se
um tanto ou quanto acinzentada e macilenta.
E se durante anos fui massacrada
com a pergunta “O que é que foi?” quando aparecia nalgum sítio (a minha cara
sempre transmitiu uma ideia de: “já tive dias melhores”), hoje em dia a
pergunta das pessoas que vou encontrando é: “dói-te alguma coisa?”. E dói,
caramba! Dói mesmo. Há quatro dias que tenho coisas nos ombros, costas e
pescoço. Digo “coisas” uma vez que hesito em escrever mialgia de esforço, não
só porque não sei exactamente o que é
uma mialgia - apesar de me soar bem - mas porque temo que alguém mais
especializado na matéria reconheça aqui uma bacorada mestra e faça chacota de
mim. O certo é que há quatro dias acordei com uma espécie de torcicolo
generalizado que me obriga a andar extremamente direita e evitar movimentos
bruscos. Besunto-me com cremes, pomadas e unguentos, tomo umas pastilhas de
ibuprofeno (ah o que eu deseja escrever ibuprofeno num texto) e tenho fé que
isto passe – a outra tinha fé na chuva e cumpriu-se...
Ora, então um pouco mais
deprimida, mas ainda assim atarefada, resta despedir-me com amizade até ao mês
que vem. Ou então não. Depende do efeito da fé e do ibuprofeno.
Gostei! ;-)
ResponderEliminarobrigada jocasipe!
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