2011/02/08

Crónica na Rádio Pax

Sou actriz e não tenho vergonha. Em Portugal ser actriz é, entre outras coisas, mudar frequentemente de cidade, passar recibos verdes, não ter direitos laborais ou sociais e ter trabalho só de vez em quando.


Antes de 2007 nunca tinha vindo a Beja. Estudei em Évora: perto o suficiente para saber o que era a Ovibeja, longe o suficiente para ter vindo cá. Cheguei à Lendias d’Encantar há quatro anos ao longo dos quais pude trabalhar com cerca de três dezenas e meia de profissionais: actores, músicos, encenadores, produtores, técnicos de luz e som, artistas plásticos e gráficos….

Em quatro anos aprende-se muito sobre um sítio. O bom e o mau. E Beja é uma cidade cheia de defeitos. Como as outras todas, mas por qualquer motivo, entranhou-se em mim, (como a Coca-Cola se entranhou no F. Pessoa).

Uma das coisas que me impressionou quando aqui cheguei foi a quantidade de criadores das várias áreas artísticas que resistem nesta cidade. E isso fez-me e faz-me crer que, com as condições certas, Beja podia ser uma cidade altamente cultural e dinâmica.

Capital Cultural. Para além de serem duas palavras que rimam e se transformam rapidamente num chavão que em qualquer altura cai bem, (porque é grande “CAPITAL” e refinado: “CULTURAL”), alguém conhece a definição do conceito?

Eu deduzi, (e fiquei tão satisfeita e esperançosa com a minha dedução!) que se tratava de um investimento sério com metas objectivas, com estratégias transparentes. Investimento que andaria a par com uma, tão urgente quanto necessária, participação activa dos criadores e entidades da região, uma parceria entre os artesãos (englobo aqui todas as profissões ligadas às artes) e quem tem o poder de decidir, o dever de defender e de pensar profundamente os problemas da cidade. E pode começar-se colocando as perguntas mais simples como: quais são os problemas desta cidade? E ir tentando resolver um por um.

É preciso ser presença assídua na oferta cultural da cidade, não exclusivamente na que vem de fora (comprada), mas na que é produzida cá. É preciso conhecer a realidade para poder transformá-la. E é essencial que se saiba o que se quer fazer, delinear as tais estratégias…

Se se quer fazer de Beja a Capital Cultural que eu depreendi, vamos no caminho errado, disso não tenho dúvida. O Pax Julia merece melhor sorte que ser apenas um espaço de apresentação de espectáculos e de galas e de festas.

A nossa, e perdoem-me se acham que é um abuso chamar de minha uma cidade que conheço há quatro anos, mas já disse que se me entranhou…, a nossa cidade tem a matéria-prima, a criatividade, o talento, mas mais importante ainda a persistência de que se precisa para uma empreitada destas. Não deitemos fora o que está feito e é nosso. Abusemos dos artistas de Beja e do seu trabalho. Na verdade, o que eles querem mesmo é trabalhar. Palavra.

Link da Radio Pax.

5 comentários:

  1. olá! Gostei de ler o teu texto... comentei no facebook. não tenho muito jeito para me exprimir, mas é aquilo, que eu penso. beijos

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  2. Ser actor (ator) é uma profissão como outra. Sem menos mas também sem mais...

    Vai da vocação e do jeito...


    Nota: a da coca-cola é do O´ Neill, não do Pessoa:)

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  3. M. nem mais nem menos, como disseste, mas muito mais propensa a dificuldades e a falta de condições que a esmagadora maioria. Desde sempre e não por causa da crise. E andei pela net para confirmar e ainda que haja quem defenda a frase como sendo de A. O'Neill, a grande parte atribui ao F. Pessoa a criação do slogan.

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  4. Anónimo9/2/11 23:00

    Parabéns pela crónica, mas cá me parece que com crónicas destas não vai estar muito mais tempo na Rádio Pax. Parabéns.

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  5. Anónimo - Antes de mais: obrigada. E depois: que coisa mais má de se dizer. Então não podemos opinar como pessoas livres que somos?

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