Domingo de manhã. Mais ou menos. Já é domingo à tarde, mas no meu horário, é de manhã.
Um nervoso miudinho que me tolhe o estomago instalou-se ontem e não tenho esperança que desapareça antes de quinta feira. Só sexta vou acordar com o estomago e o corpo mais relaxado e mais calmo.
É nesta altura que a vontade de desaparecer começa a tomar conta dos sentidos e a promessa quase-religiosa de "nunca mais me meto nisto" começa a formar-se no meu cérebro. A dúvida em relação ao mais ínfimo pormenor começa a ganhar terreno.
E depois toda uma panóplia de dúvidas mais íntimas, mais fortes, que estão sempre por aqui, mais ou menos adormecidas, acordam cheias de energia e muito impositivas. É difícil ignorá-las e no entanto, não há outra coisa a fazer se não arranjar uma coexistência pacifíca entre mim e as dúvidas. Esperar por outra altura para lhes dar ouvidos e pensar sobre elas.
eu ando pelo mundo,
divertindo gente,
e vendo doer a fome dos meninos que têm fome...
pela janela do quarto
pela janela do carro,
pela tela, pela janela,
quem é ela, quem é ela?
eu vejo tudo enquadrado,
remoto controle
eu ando pelo mundo
e os automóveis correm para quê?
as crianças correm para onde?
transito entre dois lados de um lado
eu gosto de opostos
exponho meu modo, me mostro,
eu canto para quem?
e meus amigos, cadê?
minha alegria, meu cansaço?
meu amor, cadê você?
eu acordei,
não tem ninguém ao lado
Esquadros - Adriana Calcanhoto
Sem comentários:
Enviar um comentário