2010/06/13

Ocorrências dominicais

Domingo de manhã. Mais ou menos. Já é domingo à tarde, mas no meu horário, é de manhã.
Um nervoso miudinho que me tolhe o estomago instalou-se ontem e não tenho esperança que desapareça antes de quinta feira. Só sexta vou acordar com o estomago e o corpo mais relaxado e mais calmo.
É nesta altura que a vontade de desaparecer começa a tomar conta dos sentidos e a promessa quase-religiosa de "nunca mais me meto nisto" começa a formar-se no meu cérebro. A dúvida em relação ao mais ínfimo pormenor começa a ganhar terreno.
E depois toda uma panóplia de dúvidas mais íntimas, mais fortes, que estão sempre por aqui, mais ou menos adormecidas, acordam cheias de energia e muito impositivas. É difícil ignorá-las e no entanto, não há outra coisa a fazer se não arranjar uma coexistência pacifíca entre mim e as dúvidas. Esperar por outra altura para lhes dar ouvidos e pensar sobre elas.

eu ando pelo mundo,
divertindo gente,
chorando ao telefone
e vendo doer a fome dos meninos que têm fome...

pela janela do quarto
pela janela do carro,
pela tela, pela janela,
quem é ela, quem é ela?
eu vejo tudo enquadrado,
remoto controle

eu ando pelo mundo
e os automóveis correm para quê?
as crianças correm para onde?
transito entre dois lados de um lado
eu gosto de opostos
exponho meu modo, me mostro,
eu canto para quem?

eu ando pelo mundo
e meus amigos, cadê?

minha alegria, meu cansaço?
meu amor, cadê você?
eu acordei,
não tem ninguém ao lado


Esquadros - Adriana Calcanhoto

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