Há uns tempos surgiu-me esta designação: "solidão acompanhada". Achei que estava perante uma grande descoberta e que tinha finalmente inventado um conceito que podia ter alguma utilização prática e que poderia ser facilmente explicado a quem ainda tem paciência para me ouvir.
Inventei esta expressão na tentativa de definir aquela solidão que ataca quando temos namorada/o ou companheira/o outro tipo de registo civil que não me lembro agora. Quando temos, mas suspeitamos que em breve deixaremos de ter. Ou seja, está lá alguém, mas é como se não estivesse. E eu estou convencida que é a pior forma de solidão. Está ali um corpo, mas o resto já não... Já estamos sozinhos, mas acompanhados. E é uma solidão mais dolorosa que a outra, aquela que se sente quando o sofá é todo nosso. Mas o medo ao sofá deserto mantem-nos sossegados, sem querer levantar muito cabelo.
Hoje resolvi escrever sobre este "meu" conceito (a explicação para as aspas vem já de seguida).
Resolvi ir ao google e coloquei: solidão acompanhada. Primeiro fiquei triste porque já alguém se tinha lembrado de juntar as duas palavras, mas percebi que se falavam de sentimentos agradáveis e não negativos, como eu pretendia. Eis senão quando me aparece o seguinte: "Saudade é solidão acompanhada" - poema do grande Neruda. E o poema é bonito, caramba!
E eu tenho esta dúvida:
- estarei eu em sintonia com o grande mestre? (pouco provável, a arrogância ainda não chega aqui)
- li o poema algures e o meu cérebro guardou a informação sem que o meu consciente (a quem eu chamo Zé) se apercebesse disso para, quando o dito poema me fizesse sentido, aparecer, vindo directamente do João (inconsciente) e eu pensar que tinha tido uma ideia genial?
Saudade
Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Pablo Neruda

Dou a palavra ao Neruda, que sabia o que era isto da vida:
ResponderEliminar"E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido."
Penso sempre nisso, quando algo ou alguém me faz balançar e sentir que não vale a pena. É que a vida é tudo, é o pacote completo: o bom e o mau, o claro e o escuro, o amor e a indiferença, a amizade e a frieza. E com tudo aprendemos, sentimos...vivemos. Sem anestesia, a sangue frio.
Vive!