D. Eufrásia

D. Eufrásia tem uma casa comercial. D. Eufrásia domina o seu espaço. D. Eufrásia é dona e senhora dos seus 30 m2 .

D. Eufrásia tem uma permanente em tons caju. Com laca, D. Eufrásia domina a juba que não vacila, que se aguenta firme perante o dia atarefado. D. Eufrásia fala alto, com voz grave, voz de quem não teme quem quer que seja. D. Eufrásia subiu na vida a punho, fazendo frente a tudo e a todos. D. Eufrásia usa uma bata branca com todos os botões apertados, excepto os dois de cima, que lhe espartilham muito os generosos peitos. Aliás, toda ela é generosa, de coxas a braços, fortes de trabalho.

D. Eufrásia não tem um rosto simpático. É duro o seu rosto, emoldurado com a permanente caju.

D. Eufrásia tem duas moças a trabalhar para si. Põe e dispõe. É a rainha do salão.

D. Eufrásia só atende quem quer. É possível entrar no salão e ser perfeitamente ignorada por D. Eufrásia que passa roçando o ombro pelo nosso sem nos olhar duas vezes. É possível estar parada no meio do salão de D. Eufrásia sem ser atendida, enquanto a rainha e aias bajulam a cliente habitual acabada de entrar.

É possível que quando finalmente dizemos ao que vimos "uma rede de cabelo por favor, se não fôr muito incómodo. Ah, e uma factura." todas as cabeças se virem para nós, como se de um crime de tratasse.

- Desculpe?! diz D. Eufrásia fazendo tremer o mais valente

- ...uma factura...?

- Não senhor! Aqui não há facturas!

- Mas a senhora é obrigada por lei... argumenta o cliente, enchendo o peito de ar, mas temendo a represália....

- Aqui na minha casa não!

- Então a senhora tem leis só suas? próprias?!

E D. Eufrásia põe fim à conversa acentuando muito bem as sílabas das primeiras três palavras:

- Na-mi-nha-ca-sa não há facturas!

nota: o desenho, foi o melhor que consegui fazer, nesta que foi, a minha primeira experiência artística informatizada.