2008/05/10

  • COIOTE Um texto muito bom (Luiz Pacheco, com selecção e organização de António Revez). Um desenho de luz (Ivan Castro e Carlos Curto) e banda sonora (Carlos Curto) que em muito ajudam a cena, adaptando-se a cada momento, fazendo sentido, misturando-se de tal forma com a interpretação e texto que se cola sem causar estranheza quando surge. A aridez do palco, a escolha do monte de roupa como cobertor do corpo nu é o calcar da ideia da nudez pura, da franqueza, do quão despido pode um homem ser de hipocrisia, de vergonhas, de pudores. A encenação (Carlos Curto) muito contida, sem grandes rasgos ou movimentos, sem distracções, cingindo a atenção ao essencial: corpo e voz. A interpretação (António Revez) é simples, sem artíficios. Não se sobrepõe ao texto, acompanha-o, dá-lhe vida e luz e escuro quando preciso. O confronto com o público é dos momentos mais fortes do espectáculo. Enquanto estamos (público) resguardados na nossa postura voyeur, encantados; quando confrontados, citados, quase insultados as cadeiras começam a fazer-se ouvir, incomodadas. E sair dali incomodado é o mínimo que se pode fazer. Podem dizer que sou parcial, se calhar sou mesmo, mas não faço favores nenhuns. E o que escrevi, é o que vi. Pena que comigo estavam tão poucos. E todos esses seguiram para a cafetaria do Pax Julia, onde se fez a Conferência (nome pomposo para uma conversa tão informal). Na mesa: António Revez, Carlos Curto e Paulo Pacheco (filho do autor). O título: Luiz Pacheco, O Homem, o Escritor.A conversa girou à volta das experiências de cada um dos presentes com L. Pacheco, o filho fez o favor de nos dar o contraponto, deu-nos mais do homem, menos do "clown" (designação do próprio) criado pelo autor e alimentado pelos media na pouca visibilidade que lhe dão. Aguçou a vontade de lê-lo, de conhece-lo, de saber para além do folclore. Saí do Pax Julia convicta de que quem ali esteve naquela noite saíu a saber um pouco mais, com a curiosidade espicaçada, com o espírito um nadinha mais rico.
  • Desde ontem que grande parte dos lugares de estacionamento na zona do Pax Julia estavam vedados com fita polícial (será que é esta a designação da coisa?). E eu? Tudo bem. Ontem arranjei logo lugar por isso, tudo bem. Hoje: adormeci, atrasei-me, dormi pouco, bebi o iogurte pelo caminho, não tinha tabaco, não tinha óculos de sol, não tinha cérebro sequer (deixei-o na almofada o resto da manhã), decidi ir de sandálias e camisolinha de Verão (estava frio), havia carros por todo o lado, todos andavam devagar, travavam, não sabiam para onde iam. Os semáforos ficavam vermelhos quando eu me aproximava. Meteram uma segunda tampa nos iogurtes de beber, o que dificulta a sua abertura e torna impossível fazê-lo a conduzir sem entornar umas quantas gotas. Quando chego ao largo: camiões militares, militares (os homens) por todo o lado, polícias, motas da polícia, fitas da polícia, a constatação: NÃO HÁ LUGAR PARA ESTACIONAR! Duas voltas dadas e confirma-se NÃO HÁ LUGAR PARA ESTACIONAR! A mão que até há pouco estava de prevenção na buzina, passa a enxugar lágrimas de irritação que começam a querer cair. "Eu quero dormir, porque é que não me deixam dormir?! Que mal fiz eu?! Porque é que não saem da frente?" lá parei nas cargas e descargas, até me convencer que mesmo com ticket, não me safava da multa e lá vai mais uma volta, mais uma viagem. Consegui lugar. E por ter conseguido, pensei: Tudo bem! Trabalho. Até ao momento em que se ouve a fanfarra. E como qualquer boa menina, debruço-me na janela. E aqui sim, aqui dá-se o espanto, a dúvida: Porque estavam os militares a tocar corneta virados para o Bar Regional?! Estariam à espera que as meninas viessem à janela?!

3 comentários:

  1. E sei: estava calor. :-)

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  2. olá! Vejo que te divertiste. Além de trabalhares na área e de gostares de teatro, desta vez tb assististe á peça. Talvez os militares quisessem um olá das moçoilas. beijos e as melhoras! Um bom fim de semana!

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  3. amoris: o bar regional é o local de alterne aqui do sítio! daí a minha dúvida!

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