Sexta feira é o dia dos cuidados médicos.
Faz hoje oito dias que escrevi isto e em jeito de comemoração, dei por mim a caminho do Hospital de Beja.
Nunca nada acontece de forma simples (as provas estão aqui). Coxa de um pé, e visto ter a infelicidade de apenas possuir dois, vi-me obrigada a "caminhar" (as aspas fazem todo o sentido aqui) cerca quase 1000 metros, entre o lugar que encontrei para estacionar o carro e o edíficio que ostenta umas letras enormes vermelhas: EMERGÊNCIA. Então "caminhei" o mais emergentemente que me foi possível até lá, segundo o senhor segurança-porteiro, mesmo coxa, o porche tem de ficar fora do recinto hospitalar.
Meia hora mais tarde cheguei com o sentimento de missão cumprida. Fiz a inscrição, blá, blá... fui a um sítio que chamam triagem onde me ofereceram uma pulseira amarela muito fashion que fiz questão de exibir à saída, o que me valeu uma cara muito feia do senhor segurança que me disse: "se tem pulseira amarela tem de ir para a sala lá de dentro" e eu pus os olhos de cachorrita e tatamudeei "...mas... lá dentro estão as pessoas de facto doentes, com coisas contagiosas, com quem eu não quero estar em contacto directo, porque em vez de uma amputação do pé, posso sair daqui com maleitas piores" (na verdade fiquei-me pelo mas muito tímido), e ele arregalou os olhos e indicou com um indicador muito eloquente a porta da sala. Olhos no chão, lá fui.
Até ali tinha ficado de pé, tipo flamingo, um pé recolhido e outro a suportar todo o peso (imenso) do meu (muito elegante) corpinho. Apercebi-me do risco eminente de amputação dos dois pés, e resolvi sentar-me. Entretanto nos altifalantes ouviu-se "Teresa Chouriço", à falta de resposta repetiram "Teresa Chouriço" como ninguém respondia, os utentes começaram a entreolhar-se repetindo em todas as direcções "Teresa Chouriço?" foi quando me comecei a rir e agradeci o nome que me calhou no nascimento.
Senta-se um homem ao meu lado. Devido ao aroma a falta de banho que chegou ao meu delicado nariz, comecei imediatamente a sentir todo o tipo de comichões e impressões, que até eram suportáveis até ao momento em que, depois da chamada em alta voz para o apoio tmn, o senhor resolveu dar música aos utentes e fez uma passagem por todos os toques polifónicos existentes no aparelho com direito a repeat. Aí as comichões (desta vez mais cerebrais) atacaram em força.
Cerca de hora e meia depois fui chamada pelo Ortopedista que me mandou apontar onde me doía e me mandou para a radiologia. E com quem fui eu até à radiologia? Para além do enfermeiro muito giro e simpático que se ofereceu para me levar de cadeira de rodas, também a D. Teresa Chouriço me fez companhia! Aí fui eu com a minha amiguinha nova, que há dois dias tinha dado um tombo e não conseguia levantar um braço e que para além disso falava muito e não mexia muito a boca e por isso não percebi mais de metade da história, a não ser: "e eu: Catrapum... nem tive tempo de nada! e eu caída na cova sem me conseguir levantar e ela sem me conseguir ajudar..."
Bom, resumindo: "Gelo, canadianas, fisioterapia, pé ao alto, baixa... tornozelo fragilizado... canadianas, gelo, baixa, canadianas, fisioterapia, baixa, canadianas, fisioterapia, canadianas, fisioterapia " e com este eco "andei" até ao meu porche.
À tarde aventurei-me no maravilhoso mundo da medicina alternativa: acupuntura... Pensando eu que ia fazer uma massagem, estranhei as agulhas e o seguinte pensamento passou em rodapé pelo meu cérebro: "merda, atão o homem é apicultor", felizmente não verbalizo tudo tudo o que me passa pela cabeça o que me poupa a variadíssimas humilhações. Bom lá me espetou, lá me deu uns choques eléctricos através das agulhas, e depois o grande final: injecta-me o que ele disse ser um "ânti-infámátório muto bome", mas que só vai fazer efeito amanhã à tarde. E se esta experiência serviu para alguma coisa foi para eu perceber isto: uma pessoa aleija-se, dói, mas olha!, é um acidente, agora uma pessoa submeter-se à dor de livre e espontânea vontade... dá que pensar. E eu queixava-me e o apicultor dizia: "dói, non é? Aqui cóstuma dóér muto... Só maiz ma picadela"....
E cá estou: gelo, picadelas, canadianas, gelo, fisioterapia, tornozelo fragilizado!!
E depois ainda há quem duvide da minha teoria do complô!!!
Bom texto, até parecia que te estava a ver...
ResponderEliminarBoas melhoras e - dentro do possível, bom fim-de-semana!
Eu tenho uma grande alergia a médicos, hospitais e até clínicas privadas (essas, essencialmente pela leveza que me provocam na carteira)...
ResponderEliminarÀ conta do curso em que estou já virei semi-hipocondríaca e ir às urgências do hospital de santo António numa base mensal como me tem acontecido não é muito agradável. Desde tudo aquilo que penso que aquela gente pode ter e ser contagioso, até ao tempo de espera fastidioso...
Houve um senhor médico que me disse, às 2h50 da manhã "e a senhora tem muita sorte por só ter esperado 3h, houve gente que veio para aqui às 15h e só saiu às 23h". Nesses momentos valem-me o leitor de mp3 e a paciência que vou cultivando...
Enfim, conclusão: as melhoras, e que não tenhas de voltar ao hospital tão cedo =P
Obrigada Zig, e quanto ao fim de semana: pé ao alto, gelo e canadianas!!! Bom fim de semana! ;)
ResponderEliminaranaa: o que me zangou nem foi a espera, para isso uma pessoa já vai mentalizada. e passei lá umas duas horas e meia no máximo. O que é bom! Agora obrigarem-me a mancar durante uns infindáveis 1000 metros... E como tenho andado sempre doente, se não é uma coisa é outra... cumeço a ficar farta! acho que é desta que ligo ao professor bambo! lol :)
estás outra vez magoada do pé?
ResponderEliminarComo te compreendo: urgências, depois alternativas.. e nada...
ResponderEliminarh: resta-nos o professor Bambo! ;) e a boa disposição....
ResponderEliminaroh, moi-te tá divinal, tou a rir desalmadamente, não da tua sitação é claro, mas da tua descrição...bejos e as melhoras
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