há momentos em que sinto que tenho qualquer coisa para dizer.
qualquer coisa urgente.
que precisa de se tornar palavra. que precisa de ser do mundo e não meu.
ou que eu preciso que se torne do mundo para que não seja só meu.
nesses momentos escrevo, escrevo, escrevo até os tendões darem de si...
acabo por não dizer nada que não tivesse sido já palavras de outros, gestos de estranhos, sons do mundo....
acabo por perceber que, independentemente do que fosse que tinha para dizer, não é importante. não é mais meu que é do mundo, ainda que eu pense que seja pessoal, segredo, que mais ninguém tem acesso a esse cantinho onde guardo as coisas por dizer.
e esse canto, que é meu de facto, está em todo o lado, e em todos os cantos de todos os que se dão ao luxo de terem cantos, estão segredos e coisas por dizer semelhantes às minhas e que a única coisa que as distingue é que eu continuo a achar que são novidades, quando toda a gente sabe que são lugares comuns.
e às vezes pelas palavras dos outros é tão mais fácil entendermo-nos....
Diz-me devagar coisa nenhuma, assim
como a só presença com que me perdoas
esta fidelidade ao meu destino.
Quanto assim não digas é por mim
que o dizes. E os destinos vivem-se
como outra vida. Ou como solidão.
E quem lá entra? E quem lá pode estar
mais que o momento de estar só consigo?
Diz-me assim devagar coisa nenhuma:
o que à morte se diria, se ela ouvisse,
ou se diria aos mortos, se voltassem.
Fidelidade, Jorge de Sena
looool =) parece que estamos em sintonia hoje querida ;) bj grande
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