A Gripe

esta que aqui vêem é a gripe.

foi esta filha da mãe que me deixou k.o. durante dois dias.

este meu estado mais ou menos vegetativo deu para pensar e entender algumas coisas:

1. não há limite para a capacidade do corpo humano de criar secreções estranhas e nojentas;
2. o cêgripe e o cetussin são os meus mais recentes melhores amigos;
3. estar doente é mau, mas sem televisão, sem filmes, sem net é pior ainda;
4. o chá com mel...

Ah em relação ao chá a descoberta é revolucionária.

Na noite de domingo, (foi quando a senti apoderar-se de mim), resolvi fazer o que se faz há centenas de anos por esse país: chá com mel.

Eu fiz chá com mel para mim mesma. Este acto pode parecer inocente, casual, sem grande peso, mas revela uma de duas coisas:

• o ponto alto da independência de um ser humano "tenho gripe e vivo sozinho? não faz mal, eu sou capaz de tomar conta de mim mesmo e faço chá com mel";

ou então:

• o chegar ao fundo: "tenho gripe, vivo sozinho e como se não bastasse ainda vou fazer chá com mel para mim mesmo!"

e a descoberta que fiz está intimamente ligada a isto: o chá com mel não tem eficácia na luta efectiva contra a gripe, antes na luta afectiva. O chá com mel é provavelmente dos alimentos (a par com a canja de galinha) que mais conforto nos traz: na cama, cheios de frio, tremendo, com a cabeça à roda, o corpo dorido, os olhos inchados, o nariz não pára de correr, a tosse não deixa o corpo assentar de uma vez no colchão... e alguém vem com uma caneca de chá com mel.

não faz nada, a não ser sentirmo-nos mais aconchegados, mais quentinhos e mais confortáveis (uma espécie de cuidado paliativo gripal). e a recuperação de qualquer doença, sabemo-lo, é a força interior, a vontade de melhorar, e quando temos alguém que nos traz a caneca do chá com mel à cama, é mais fácil recuperarmos a vontade de viver.

PS's - lembrei-me que açorda também é um alimento de conforto, especialmente nos dias que seguem as noites de grandes desgraças.

- obrigada ao anjo da televisão. eu juro que não a deixo cair.